Que os fogos de artificio são lindos e maravilhosos, nós já concordamos, o que todos devemos ter em mente na hora de sua utilização são as classificações, indicações e combinações que podem ser feitas para deixar o seu espetáculo, festa ou evento ainda mais belo e é sobre esse assunto que vamos falar neste artigo, afinal, as festas estão ai e a tradição dos fogos é para nosso deleite cada vez mais presente.
Uma pequena história dos fogos de artificio
Os fogos de artifício e artefatos pirotécnicos são explosivos que tem o objetivo de produzir um efeito sonoro (explosão ou apitos) ou um efeito estético e visual luminoso para fins de entretenimento e desde sua descoberta vem sendo utilizados em festividades, eventos e celebrações. Sua classificação pode ser dada quanto ao tipo de efeito, tipo de artefato e a mais importante classificação que são os níveis de restrição determinados por leis, regulamentos e licenças para utilização. O Brasil atualmente é o segundo maior produtor de fogos de artifício do mundo, perdendo apenas para a China, e vem seguido da Espanha, EUA e Argentina.
Os primeiros relatos da produção de artefatos pirotécnicos é datado de mais de 2000 anos, e surgiu na ásia (onde hoje fica a China), quando alquimistas da época descobriram que a mistura de Salitre, Carvão e Enxofre produzia um produto que queimava muito rapidamente e era conhecido como PÓLVORA. O primeiro uso da pólvora foi para produzir chamas e explosões com barulhos com fins bélicos, porém, quase mil anos depois, no islã, foram encontrados relatos de alquimistas que adicionavam outros produtos a mistura original e conseguiam produzir chamas coloridas. Nesta mesma época, existem relatos de civilizações da China, que usavam esses “morteiros” de guerra com chamas coloridas para sinalizarem e comemorarem as vitórias em guerras.
Em meados do século XIV já existem relatos do uso de artefatos pirotécnicos para fins de entretenimento, na imagem ao lado, disponibilizada na WikiPedia, vemos um cartaz de uma exibição pirotécnica para entretenimento que ocorrera em 1749 no rio Tâmisa. Nesta época, diversos países dentre eles a Itália e a Espanha já dominavam a fabricação e aperfeiçoavam a produção destes fogos coloridos e a pirotecnia (arte de controlar o fogo) passou a se popularizar também no ocidente. Com o tempo, foram surgindo novas tecnologias e estudos para melhorar os produtos, apesar do processo de fabricação se manter artesanal devido ao risco de acidentes com a carga explosiva, até os dias de hoje.
No Brasil, os primeiros registros da fabricação de fogos datam do final do século XVIII e inicio do século XIX justamente na cidade de Santo Antonio do Monte em Minas Gerais, lugar que nos dias de hoje é o maior polo mundial da fabricação de artefatos pirotécnicos do mundo. Hoje, com as técnicas modernas, a segurança dos fogos de artificio e a beleza são muito maiores que os primeiros a serem produzidos, e a sua produção em nível mundial segue um maior controle tanto para as empresas produtoras quanto para os utilizadores dos fogos de artifício. Hoje, temos diversas entidades tanto no Brasil como no mundo, para classificar e regulamentar o porte e o uso dos milhares de modelos de artefatos e efeitos existente no mercado.
Qual a Composição e os Tipos de Fogos de Artificio
Todos os artefatos pirotécnicos possuem pelo menos 4 elementos químicos distintos em sua composição, são ele combustível que geralmente é a pólvora negra, um oxidante que em conjunto com o combustível produz calor, Minerais e sais para controlar a cor, lembrando que estes elementos devem ser escolhidos pois cada material precisa reagir corretamente com os demais componentes e também queimar e produzir o efeito na temperatura gerada pela mistura do combustível e oxidante usados, além de necessitarem de um glutinante que tem a finalidade de manter todos os componentes juntos e produzir as diversas “BALADAS” que são os componentes que produzem uma luz intensa quando em ignição.
As cores são definidas por uma variedade de sais e minerais que ao serem queimados geram diferentes cores. Quanto aos tipos, diversos efeitos podem ser obtidos com diferentes formatos e montagens dessas baladas e da combinação entre os diferentes materiais. Alguns efeitos são amplamente utilizados, como efeitos de estampido e tiros, efeitos de crakling que consiste em diversos estouros de menor intensidade, efeitos de desenhos como anéis, corações e outros formatos, efeitos de apitos e silvos em geral, e os efeitos conhecidos como crossette que são as bombas de cores, estas são subdivididas em uma infinidade de efeitos e cores especiais, cada qual com uma ideia e confecção distintas.
Alguns artefatos pirotécnicos possuem maior segurança e não produzem gases tóxicos durante a sua queima tendo o seu uso liberado também para uso em ambientes interiores ou indoor, e são conhecidos por diversos modelos e tipos, porém ainda hoje com uma variedade menor de formatos que os dispositivos para uso exterior. Os dispositivos indoor não utilizam como propelente a pólvora negra, e sim um outro composto baseado em nitrato de celulose ou nitrocelulose, porém sua queima ocorre em temperaturas mais baixas o que limita os compostos que podem ser adicionados e também a variedade de efeitos que podem ser produzidos. Outro limitante para os fogos para uso indoor é que alguns gases produzidos pela queima dos diversos componentes pode ser tóxico o que limita ainda mais o leque de opções.
Classificação dos Artefatos Por CLASSE EXPLOSIVA
No Brasil a regulamentação para fogos de artifício e produtos pirotécnicos é feita pelo decreto-lei nº 4238, de 8 de abril de 1942 que regulamenta a venda, fabricação e a utilização destes produtos no país. Pela lei, existem quatro classes de fogos de artifício diferentes, sendo elas:
Classe A: venda e uso livre para qualquer pessoa, incluindo menores de idade, com recomendação de uso de alguns dos artefatos por faixas acima de 6 anos, acima de 10 anos e acima de 12 anos. Nesta categoria estão enquadrados os fogos sem estampidos e somente de efeitos visuais, tais como fósforo colorido, velas para bolos, estrelas de ouro, chuvas manuais, pistolas de cores, bastões e similares, estalos de salão (biribas) estalos bebê (ou traques de salão), e similares, desde que as cargas explosivas não ultrapassem o limite de 0,2 gramas, e Lanternas japonesas, cujas mechas não excedem a 2,0 gramas.
Classe B: venda livre somente para maiores de 16 anos de idade, uso proibido próximo à escolas e hospitais. E compreendem os fogos de estampidos e assobios, contendo o máximo de 0,25 gramas de pólvora explosiva em cada bomba (bombas numero 1 e numero 2) e de efeitos visuais, tais como girândolas, pistolas de cores, vulcões e artigos giratórios e de chão em geral.
Classe C: venda livre somente para maiores de 18 anos de idade, uso somente com licença de autoridade competente em hora e local previamente designados e com a devida sinalização. Compreendem explosivos contendo mais de 0,25 gramas e o máximo de 6,0 gramas de pólvora, em cada bomba (bombas numero 3, numero 4) bombas especiais como as utilizadas em cartuchos de mão (rojões e morteiros), artigos explosivos até 3 polegadas de diâmetro com tubo de papelão ou metal, de cores ou fantasias como os rojões de vara, os morteiros aéreos, os efeitos de rabo de pavão e kamurro, entre centenas de outros que podem ser disparados em direção ao céu desde que não excedam 1 e 1/2 polegadas de diâmetro por carga, nem 6g de pólvora por carga, nem possuam diâmetro máximo maior do que 3 polegadas.
Nesta categoria, se enquadram também as Girândolas e as Tortas que são matrizes de efeitos já pré montados contendo uma sequencia de disparos com tempos e cargas determinadas formando um efeito pré-determinado e de mais fácil montagem e iniciação. Comumente encontrados em casas especializadas e prontos para serem manuseados e montados.
Na categoria C, até 2012 eram também enquadrados os artefatos para uso indoor, porém devido a um grave acidente ocorrido no Brasil, especificamente na cidade de Santa Maria/RS com mais de 240 vítimas a classificação deste tipo de artefato passou a ser de categoria D.
Classe D: venda controlada somente para maiores de 18 anos de idade, uso permitido somente com licença prévia de autoridade competente, e montados e operados (disparados e iniciados) por profissional de classe com habilitação e licenças em dia, para uso e montagem destes artefatos é necessária a presença de um Cabo Pirotécnico ou Blaster Pirotécnico com formação e registro ativos e válidos. São classificados nesta categorias os artefatos de quaisquer formas de uso, cujas bombas contenham mais de 6,0 gramas de pólvora de estampido, e que sejam maiores do que 3 polegadas de diâmetro usados para efeitos de cores ou assobios, salvas de tiro usadas em festividades cujas bombas contenham mais de 6,0 gramas de pólvora de estampido cada, peças pirotécnicas, presas em armações especiais usadas em espetáculos pirotécnicos
E também artefatos especiais para efeitos de “PIROTECNIA DE APROXIMAÇÃO” como são tecnicamente conhecidos os efeitos especiais em mágicas e apresentações indoor, onde os artefatos mais conhecidos são Guerbs, Fontaines (fontes), Tiros de Estampido com magnésio (clarão e barulho) conhecidos como concussions, efeitos giratórios como os zaxxon e micromets, e também efeitos de queima a alta velocidade como algodão pólvora, entre outros efeitos de chamas e cores.
A lei brasileira também proíbe a venda de fogos de artifício em casas e comércios que não possuam autorização legal para isto, proíbe a soltura, fabricação e venda de balões juninos e fogos que possuam dinamite (trinitrotolueno ou TNT), nitro-glicerina e outros alto explosivos em sua composição. A fiscalização ocorre pelo Exército, que também controla a fabricação e a importação tanto dos artefatos prontos, quanto de produtos utilizados como bases para a sua fabricação. Já a comercialização para pessoas destinadas ao uso final (venda a varejo ou realização de espetáculos) é feita na esfera federal pela DAME.
A utilização e regulamentação para profissionais é feita na esfera estadual, cabendo a Policia Cívil o registro dos profissionais habilitados para realização e porte e transporte destes artefatos, e ao corpo de bombeiros militar o acompanhamento destes profissionais mediante a recolha das devidas taxas, para a realização pública destes shows. Já a autorização de uso e regras para a montagem e utilização destes artefatos é de responsabilidade das prefeituras, mesmo não tendo responsabilidades diretas sobre a fiscalização e manuseio, as licenças para comercialização, e fiscalização dos estabelecimentos tanto lojas como prestadores de serviços e profissionais é regulada pelas prefeituras e suas portarias.
Segurança e Verificações Antes do Uso de Artefatos Pirotécnicos
Ao adquirir seus fogos de artificio, busque sempre empresas idôneas e registradas, com os devidos alvarás de funcionamento. Marcas conhecidas e embalagens devidamente fechadas, produtos sem marca e sem embalagem são sinal claro de fabricação clandestina e que pode ter qualidades duvidosas e causar sérios riscos a sua vida.
Para o armazenamento, nunca deixe os fogos de artificio no alcance de crianças e animais, mantenha o produto em local seco e longe de fontes de calor e chama, nunca misture-os com outros produtos químicos, e sempre guarde-os dentro da sua embalagem original, junto com as instruções de uso e manuseio.
Para o uso de qualquer tipo ou classe de fogos, leia antes todas as informações e instruções e siga corretamente as instruções de uso e segurança existentes na embalagem do produto. Nunca consuma bebidas alcoólicas ou esteja sobre uso de remédios que possam causar qualquer tipo de sonolência ou déficit de atenção durante o uso de fogos e outros produtos pirotécnicos, nem deixe que pessoas nessas condições façam uso.
Os fogos de artificio são para ambientes abertos, e devem ser soltos em locais que proporcione uma distância segura de pessoas, edificações, árvores, redes elétricas e produtos inflamáveis. Para o disparo de rojões e foguetes individuais é recomendável o uso de um suporte de lançamento, ou o empilhamento destes, use pelo menos 3 a 4 cartuchos enfileirados para sua maior segurança e siga exatamente as orientações de soltura contida na embalagem do produto.
Não coloque os fogos de artifícios nos bolsos das roupas, nem armazene dentro de veículos ou mesmo de caixas e outros locais fechados. No caso de “bombinhas” nunca as acenda na mão, coloque o produto no chão plano e o acenda com segurança, para estes acendimentos a forma mais segura é com o uso de fósforos de segurança (com o palito mais longo) ou mesmo com um cigarro ou ponta em brasa. Se o produto falhar ou retardar o funcionamento considere-o sempre como ativo e em funcionamento, aguarde o tempo indicado pelo fabricante antes de se aproximar do artefato. Não tente reaproveita-lo de maneira nenhuma.
Jamais faça experiências, modifique, desmanche ou tente fazer seus próprios fogos de artificio, nunca aproxime qualquer parte do seu corpo sobre a saída de projeção do fogo de artifício, nem aponte os fogos de artificio na direção das pessoas e animais. Alguns artigos pirotécnicos não são recomendados para menores de 18 anos e essa restrição deve ser sempre verificada. Sempre que uma criança estiver soltando fogos de artificio permitidos a sua idade, é OBRIGATÓRIO A SUPERVISÃO DE UM ADULTO.
Se o produto apresentar vazamento de pólvora despeje uma quantidade de água suficiente para dissolve-la, e descarte as embalagens e cartuchos usados junto com lixo orgânico, mesmo sendo de papel e papelão, as embalagens podem conter resíduos de pólvora e de outros produtos químicos. O ideal é molhar e lavar em água corrente todos os cartuchos e embalagens antes de descarta-los no meio ambiente.
Rojões de vara, morteiros e candelas, devem ser sempre iniciados dentro de seus suportes e cartuchos, a uma distância de 50 a 300 metros de pessoas, edificações, arvores e rede elétrica.
Produtos de uso interno (fogos indoor) devem ser bem instalados e fixados em locais seguros, distante de qualquer material inflamável ou combustível. Apesar da segurança e da possibilidade de uso destes artefatos em ambientes fechados, todos os cuidados devem ser tomados a fim de evitar incêndios, lesões em pessoas que estejam próximas ou a falha destes artefatos. Produtos destinados a uso externo não podem ser utilizados em ambientes fechados, geralmente estes dispositivos pirotécnicos oferecem um risco grave devido a necessidade do emprego de fogo para seu funcionamento, e pela liberação de gases tóxicos durante sua queima. No Brasil e no mundo, temos diversos acidente que levaram a óbito centenas de pessoas pelo uso incorreto de artefatos indoor e também pelo manuseio incorreto de peças pirotécnicas.
Para shows pirotécnicos ou queimas de fogos, o cuidado deve ser maior e o isolamento correto da área de detonação deve ser bem feito, pois os explosivos utilizados são maiores e com poder destrutivo maior. A montagem da área de detonação e preparação do espaço para o show de fogos deve seguir regras especificadas pela prefeitura, corpo de bombeiros, governo estadual e só poderá ser realizada por um blaster pirotécnico ou cabo pirotécnico, que deverá apresentar um projeto e planta detalhada, além de toda a documentação para a realização de um show de fogos de artifício.
Além dos riscos a saúde riscos ao meio ambiente como incêndios, liberação de poluentes, perigo aos animais e as demais pessoas como traumas físicos e psicológicos, amputações, danos físicos e financeiros também podem ser causados pelo mau uso dos explosivos e fogos. Fogos de artifício causam muita poluição sonora e atmosférica. Muitos animais sofrem com o barulho dos fogos de artifício, sejam eles silvestres da fauna natural ou animais domésticos como cães, gatos e pássaros, podendo causar reações de estresse nestes levando a alterações fisiológicas como aumento da frequência cardíaca, piloereção e alterações no metabolismo da glicose. Em 2011 na cidade de Little Rock, nos Estados Unidos, centenas de pássaros apareceram mortos durante a virada do ano de 2010 para 2011, a principal suspeita é de que eles teriam se desorientado com o barulho dos fogos de artifício.
Em humanos, reações de estresse e crises podem ocorrer em pessoas que tem autismo. Geralmente, essas pessoas se sentem perturbadas com barulhos muito altos. Quanto aos danos a atmosfera, os fogos de artifício causam uma contaminação a curto prazo, levando ao aumento de partículas em suspensão no ar em até 7,16%, sendo nocivo a quem respira e aumentando consideravelmente a emissão de partículas de metais, produtos químicos nocivos e outros componentes que podem causar problemas de saúde, por isso o uso correto e o descarte correto devem ser observados.
Primeiros Socorros
Fogos de artificio são seguros, e a maioria dos acidentes ocorre por desrespeito as normas e instruções de uso, porém, ao manusea-los devemos ter em mente sempre o que fazer e os procedimentos corretos em caso de um acidente. Enquanto não houver atendimento hospitalar, é preciso cobrir a queimadura com um pano limpo e umedecido em água filtrada ou soro fisiológico e jamais furar as bolhas, pois elas servem para proteger a área queimada. Não tente retirar as roupas grudadas nos ferimentos, nem os fragmentos de objetos que possam estar na pele.
Não use receitas milagrosas, como óleo, pomadas, pó de café, manteiga ou pasta de dente, porque certos elementos aumentam as chances de infecção no local machucado. Os médicos e bombeiros devem ser os primeiros a examinarem a extensão do ferimento e a gravidade das lesões, e saberão qual o procedimento correto em cada caso. Enquanto aguarda o socorro especializado, retire todos os objetos que podem sufocar a pessoa como pulseiras, brincos, anéis, relógios, roupas apertadas e outros objetos porque logo após a queimadura acontece um inchaço na área afetada e também ao redor. Se a lesão for pequena e a pessoa estiver em condições de andar e se locomover por conta própria, leve-a imediatamente ao centro hospitalar para que possa receber o atendimento ideal.
Outro tipo de acidente que pode ocorrer com pessoas e animais e o manuseio de fogos de artificio é a laceração e mutilação dos dedos, mãos, pés, partes da pele e tecidos e no rosto. Nestes casos, o procedimento é se a vítima estiver consciente e conseguir se locomover por conta própria leva-la ao atendimento de emergência de centros hospitalares, caso a vítima não possa se locomover, ou estiver inconsciente é aguardar o socorro por parte do corpo de bombeiros ou serviço de resgate médico, já que a remoção ou manuseio da vítima além de causar maiores danos também é crime, e as pessoas que o fizerem podem sofres sérias sanções penais.
Outros acidentes podem incluir riscos a audição e casos de cegueira causados pelo uso de fogos de artificio, nestes caso o procedimento é encaminhar as vitimas para o atendimento especializado por médicos e agentes de saúde. A indicação é de que profissionais façam a explosão e manusei dos fogos e artefatos pirotécnicos. Se isso não for possível, deve-se utilizar os fogos com segurança e dentro das classificações permitidas.