Quando uma banda ou mesmo um palestrante ou locutor se apresenta ao vivo uma das funções do técnico de som é controlar o nível de som produzido pelo vocalista e a saída gerada pelo sistema de amplificação sob o seu comando. Além do nível médio produzido pela banda e locutor, há momentos em que são produzidos sons com energia muitas vezes maior por exemplo quando o contrabaixista dá um slap, ou quando o baterista desce toda a força do braço na caixa ou ainda quando o palestrante, que falava em voz média eleva subitamente sua voz para enfatizar alguma coisa.
Infelizmente não existe a possibilidade de atrasar o som que é enviado às caixas e proporcionar a chance de reagir a estes picos e nem de prever quando estes irão acontecer. É para conter estes picos que existe o compressor. Embora um técnico não consiga reagir aos picos sonoros com rapidez, um circuito eletrônico não exige grandes proezas para faze-lo. O circuito vai acompanhando o nível de sinal que passa por ele e quando detecta uma rampa de energia que sobe acima de limites pré definidos, ele aplica uma redução, também pré definida, em cima do sinal de modo a suprimir o pico. Quando bem ajustado, este processo ocorre de forma transparente de modo que ninguém na platéia percebe a sua atuação.
A melhor analogia que conheço para ilustrar a função do compressor, bem como a diferença que existe quando este é empregado como limitador, é a imaginação de um camarada pulando sobre uma cama elástica, numa área coberta. À medida que ele vai pulando vai ganhando altura. Finalmente ele atinge a altura máxima imposta pela dimensão vertical do ambiente. Se esta cobertura for de lona flexível, como de uma tenda, ela terá o efeito de uma segunda cama elástica e a cabeça do camarada ao atingi-la sofrerá uma compressão cujo efeito será de frear a sua trajetória ascendente e impulsionar o indivíduo novamente para baixo. É assim que funciona o compressor. O grau de elasticidade do limite superior é a taxa de compressão (ratio), o pé-direito ou altura do ambiente é o limiar (threshold). Se ao invés de uma cobertura de lona flexível na ilustração acima, o camarada estivesse num salão cujo limite superior fosse uma laje de concreto armado. Temos ilustrada a função de um limitador, ou seja, não importa qual a intensidade do sinal ou o quanto o sinal não processado iria ultrapassar o limite, aqui não existe flexibilidade, o máximo é o máximo e ponto final. Daí a aplicação do limitador em proteger as caixas de som contra picos extremamente acima do nível de operação do sistema.
Como descrito acima o limiar ou threshold estabelece o ponto em que o compressor começará a atuar sobre o sinal, e esta atuação será determinada por dois outros controles, O ataque ou attack que determina a velocidade do início da atuação. Ou seja, se um pico for muito rápido (como o estalar de língua de um palestrante) o compressor o deixará passar, já quando o palestrante eleva a sua voz para dizer uma palavra com mais força passará o tempo de ataque e o compressor atuará pois o nível de sinal ainda estará acima do limiar. A taxa de compressão ou ratio é quem determina o quanto o sinal será comprimido. Na analogia acima, iria desde uma lona elástica (baixa compressão) até a laje de concreto (limitação). Por fim existe também o controle de release que estabelece por quanto tempo o compressor atuará sobre um sinal a partir do momento que este ultrapassar o limiar.
As aplicações potenciais de um compressor são muitas. Cuidado com exageros a compressão excessiva que achata totalmente a dinâmica de uma gravação ou apresentação é um fato e devemos tomar cuidado ao ajustar o sistema para que não ocorre este tipo de falha. Vou tentar de maneira sucinta mostrar que diferente do que muitos técnicos dizem por ai, o compressor é amigável e melhora muito a qualidade do áudio gerado e executado em todos os tipos de compressão, desde que se ajuste o mesmo para trabalhar de forma compatível com a dinâmica que ele está comprimindo.
A atuação do compressor segurando os picos nos proporciona dois efeitos principais. Vejamos:
O primeiro é melhor apreciado na visão do sistema de som total, onde, todo sistema de som precisa ser operado entre dois limites. O inferior é representado por aquele ponto em que o nível de sinal é tão baixo que ele chega a se confundir com o ruído de fundo e o que todos operadores e técnicos devem se preocupar, o limite superior do sistema que operam pois é ao ultrapassar este ponto que ocorrerão perdas de qualidade sonora, quando o som distorcer, e financeiras quando componentes forem queimados!
Queimam-se mais alto-falantes pelo uso de amplificadores sub-dimensionados, que distorcem ao tentar amplificar sinais além da sua capacidade, do que por excesso de potência!
Aqui entra o compressor se uma onda senoidal maior que o limite do equipamento for aplicado a ele sem ser comprimida, ele distorce e pode gerar a queima desse amplificador ou do sistema de caixas a ele ligado, se esta onda for submetida a uma compressão antes de chegar no estágio de amplificação, a amplitude desta onda pode ser contida dentro dos limites que o seu sistema de som consegue amplificar sem problemas, e, de quebra, o som irá parecer mais forte!
Deve se observar que esta solução não representa uma solução perfeita a todos os sistemas sub-dimensionados, existe também o efeito danoso causado pelo uso excessivo do compressor. À medida que se aplica mais e mais compressão, a ondas do seu material de programa vão tomando um aspecto mais e mais achatado – não devido a ceifamento mas sim pela atuação limitadora do compressor.
Isto também é danoso aos falantes pois nestes gráficos de forma de onda o eixo vertical é o tempo e o ângulo da curva entre o ponto de energia máxima que cruza o ponto zero e vai até o ponto de energia mínima nos mostra o tempo que o falante tem para “respirar” entre os pontos máximos de sua excursão. Quando submetido a sinais que foram fortemente comprimidos diversas vezes, este ângulo vai tendendo a uma posição vertical o que, para a infelicidade dos falantes, representa um tempo mínimo entre os seus pontos extremos e acaba resultando no superaquecimento de seus componentes mecânicos que perdem sua forma normal e travam ou derretem resultando na “queima” do falante.
Bem, como ligar esse sistema, existem diferentes formas, e as explicarei em outro artigo, neste momento o que importa é como utilizar o compressor.
O segundo efeito do compressor, agora visto como equipamento de insert em um único canal, é que por atuar apenas sobre os picos dos sinais ele encorpa ou confere maior peso a um som. Isto decorre do fato que ele permite que o operador deixe uma voz ou instrumento mais alto no mix sem correr o risco deste distorcer o sinal da gravação ou PA ou ainda dar início a microfonia quando vierem os picos. O resultado é que o seu som se torna mais audível ou tem maior presença dentro do mix.
Também neste caso vale o princípio de que uma dose exagerada pode ser prejudicial. O que ocorre é que como a compressão lhe permitirá deixar o fader do canal mais alto, o microfone estará captando mais não somente da voz do palestrante, que, por ser mais forte, terá seus picos limitados, como também os ruídos de fundo que existem em seu ambiente. Por serem mais fracos os ruídos não tem intensidade suficiente para causar a atuação do compressor porém, como o canal está bem aberto, ao ponto de amplificar as passagens mais suaves da voz do preletor, estes ruídos serão captados mesmo por um bom microfone direcional e serão bem audíveis.
O efeito resultante é que enquanto o palestrante fala, o som de sua voz predomina e a gravação fica limpa, porém assim que ele pára, o ruído de fundo parecerá crescer resultando num efeito bastante desagradável semelhante àquele causado pelo controle automático de ganho dos vídeo cassetes nos quais o chiado crescia durante os períodos de silêncio. Em outro artigo vou falar sobre equipamentos como expander gates que atenuam esse efeito e seu uso.
Para finalizar, vamos pensar em uma outra forma de ligação do compressor imagine que você tem um rodeio por exemplo com músicas de fundo e sempre que o locutor falar, você tem que ressaltar sua voz, baixando o som do cd, você inserta o compressor entre o cd e a mesa, fazendo-o atenuar o sinal do cd e liga o gate de acionamento (atack) a uma saída de auxilio do microfone do locutor, dai automaticamente quando ele iniciar a falar, seu compressor vai atuar sobre o sinal do cd-player fazendo todo o trabalho.
Bem, agora vamos falar um pouco sobre o que não deve ser feito com os compressores e limiters, eles não devem ser usados como controle automático de volume, já que atuam na forma do sinal e não foram projetados para esse efeito. Só isso.